Não é fácil participar na celebração de uma vitória contra o seu país de origem, tanto mais quando as Invasões Francesas deixaram uma péssima recordação na memória colectiva portuguesa.
As tropas napoleónicas assumem o papel dos ‘Maus da Fita’, pela ambição desenfreada de Napoleão, pela cobiça de Junot, pela crueldade de Loison, o ‘Maneta’, e pelos assassinatos perpetrados pelas tropas. O castigo final da Roliça e do Vimeiro parece até insuficiente para exonerar tantos crimes… Mas será na verdade tão simples como isto? Os bons de um lado e os maus do outro?
A História não é uma ciência exacta. Queiramos ou não, temos a tendência de ‘ler’ os eventos numa determinada óptica, sempre condicionada pelos nossos valores. Identificamo-nos com o país de nascimento, logo a sua valorização reforça a nossa auto-estima. Sabemos igualmente que a História é um importante meio de propaganda; mudar os compêndios nas escolas é uma das primeiras medidas tomadas após uma Revolução.
Para nos aproximarmos de uma abordagem objectiva, é útil confrontar e equacionar diferentes visões nacionais. Seguindo este raciocínio, ainda faltariam no grupo de trabalho os pontos de vista dos ingleses e dos espanhóis! Isto porque no actual contexto de construção de uma identidade europeia, elabora-se pouco a pouco uma História Continental que ultrapassa as Histórias Nacionais tendencialmente nacionalistas, preferindo enaltecer as vitórias e esquecer as desfeitas.
Por conseguinte, também o público francês em geral pouco sabe sobre as campanhas que Napoleão fez em Portugal e em Espanha de
Ao consultar a literatura especializada, observamos contudo elementos concordantes e também divergências entre as análises efectuadas em ambos os países. Grosso modo, os historiadores franceses adoptam uma atitude mais compreensiva relativamente ao Tratado de Fontainebleau, cuja importância minimizam; à administração de Junot em Portugal de que só retiveram os aspectos positivos; à repressão das tropas napoleónicas sobre revoltas populares, insistindo sobre o isolamento de um exército de ocupação diminuto (menor que uma audiência de um jogo de futebol) com linhas de comunicações cortadas com a França e sem possibilidade de receber apoio das suas hostes
François Quijano
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